Ao contrário do ditado popular, ficou provado que um raio cai duas vezes no mesmo lugar, diz Issao Mizogushi, vice-presidente comercial da Honda do Brasil, ao lamentar os problemas que a empresa enfrenta por causa do terremoto ocorrido no Japão em março e das recentes enchentes na Tailândia. As duas catástrofes naturais provocaram a paralisação da produção de componentes no Japão usados nos automóveis feitos no Brasil, o que levou a marca a perder mais de 22 mil carros que não puderam ser fabricados em Sumaré (SP).
O terremoto ocorrido no Japão em março levou a empresa a cortar a produção no País à metade e a demitir 400 funcionários, porque não havia componentes eletrônicos para manter o ritmo normal da linha de montagem.
Quando começava a restabelecer o fornecimento, foi surpreendida pelas enchentes na Tailândia, que paralisou as fábricas locais nos últimos quatro meses. Há duas semanas, a montadora teve novamente de reduzir a produção dos modelos Civic, Fit e City em 30%. A fábrica deve encerrar o ano com produção de apenas 86 mil veículos, quando sua meta era superar os 108 mil fabricados em 2010.
"Foi um ano muito complicado para nós desde o tsunami no Japão e, quando estávamos nos recuperando, veio a enchente na Tailândia", desabafa Mizogushi.
Ele afirma, contudo, que a Honda está pronta para a "virada". Em janeiro, a empresa inicia as vendas do novo Civic, apresentado esta semana à imprensa. A versão renovada do sedã deveria ter sido lançada no meio deste ano, mas foi adiada para 2012 por causa dos problemas da escassez de peças, principalmente itens eletrônicos.
"Vamos recuperar a liderança no segmento de sedãs", prevê o executivo, que viu a participação da marca nas vendas cair de quase 4% no início do ano para 2,5%. A Honda iniciou o ano prevendo aumento de 5% nas vendas em relação a 2010 - de 126 mil unidades, incluindo importados -, mas vai se contentar com no máximo 100 mil. Para 2012, a previsão é chegar a 140 mil. A produção deve ficar em 120 mil carros.
Nacionalização. Em janeiro, a montadora retomará o ritmo normal de produção, com o retorno ao trabalho dos 800 funcionários que se revezam em férias coletivas desde junho.
A empresa vai investir R$ 300 milhões em 2012, boa parte na nacionalização de componentes para evitar a dependência das importações. A construção de uma nova fábrica no Brasil, projeto congelado por conta das dificuldades deste ano, volta a ser estudado, mas Mizogushi, mas ele adianta que nenhuma decisão sobre o tema foi tomada.
Entre os itens que serão nacionalizados estão motor de partida, amortecedor e alternador. O novo Civic já chega com mais conteúdo local em relação ao atual. Passaram a ser adquiridos no Brasil o sistema de ar condicionado e alguns itens estampados da carroceria.
O novo Civic chega com novidades tecnológicas, como câmera de ré e navegador. Os preços serão divulgados em janeiro, mas Mizogushi adianta que serão similares ao atuais, que vão de R$ 66,6 mil a R$ 103,6 mil.
O executivo afirma que os modelos Fit e City serão renovados no próximo ano, assim como o CR-V, trazido do México./ C.S.